quinta-feira, 31 de maio de 2007

Bem-aventurado Sheikh que zela por nós!


terça-feira, 29 de maio de 2007

Moralizemos


Tenho um forte apego aos moralizadores, a todas aquelas santas almas que entendem que nenhuma sociedade progride sem injecções regulares de moral. Têm completa razão. Uma sociedade sem regras é um descalabro letal. Uma sociedade onde os homens e as mulheres estão com os azimutes rotos é uma sociedade sem futuro. Uma sociedade com injecções regulares de moral é uma sociedade harmónica, sã, linda, fiel à pureza, capaz de um diálogo inteligente, racional e amigo, produtora da unidade. Nenhum desnivelamento de riqueza social suporta injecções regulares de moral. A moral tudo amortece, tudo regula, tudo nivela, tudo repõe. Temos de moralizar tudo e todos, temos de criar seminários de moral, temos de introduzir a moral em todos os estabelecimentos de ensino, temos de substituir o sangue que nos corre nas veias pela moral. A imoral é filha das micaias. O género humano não merece isso. Moralizemos, meus irmãos, especialmente quando algumas aves agoirentas andam para aí a regressar ao discurso maléfico do Marx.

Pessoas desgostosas


Aparecem para aí muitas pessoas desgostosas. Desgostosas com o quê? Com o que acham que está mal. Mas as coisas são, porém, mais complexas do que isso. Por quê? Porque existem dois tipos de pessoas desgostosas: as que estão desgostosas com alguma coisa (o deixa-andar, o vai-mal, o vai-depressa-demais) e as que estão desgostosas com quem está desgostoso. Os primeiros nunca estão felizes, nunca conseguem ver aspectos positivos na vida, apenas encontram perversamente coisas positivas no que acham que está negativo. A sua felicidade regozija-se com a carne que entendem estar doente. São os estetas do mal. Os segundos sofrem do mesmo mal, mas de forma diferente: apenas encontram aspectos negativos naqueles que eles analisam, porque - vejam lá do que se convenceram -, apenas eles sabem analisar o que é negativo. São os estetas dos outros. Uns ficam felizes com a carne que acham podre, outros com quem come essa suposta carne podre.

sábado, 26 de maio de 2007

A chatice das diferenças


"O que actualmente mina a estabilidade política da maioria dos países africanos é o facto de as relações dentro desses países se basearem nas diferenças étnicas, tribais e religiosas. Quando se age desta maneira, há sempre grupos que se sentem inferiorizados, rejeitados e sem oportunidades de poder participar no controlo político e económico. Como consequência assistimos guerras sangrentas e surgimento de movimentos separatistas radicais que confrontam governos para criarem Estados independentes dentro de um Estado."
Sem dúvida de que tudo isso é uma perfeita e incomensurável chatice. Penso com os meus botões que é sempre muito bizantino sermos diferentes. Devíamos ser todos iguais, amputados dos cacetes diferenciais. Defendo com vigor que não é a diferença social que nos mina, mas a diferença religiosa ou étnica. Cada um de nós é uma essência original, coisa divina. E se cada um de nós está num grupo, então temos que cada grupo é essencialmente essencial. Se os grupos essencialmente essenciais se miram, evidentemente que, por geração espontânea, espontaneamente essencial, os machados irrompem na pradaria. Infelizmente as padarias políticas nunca conseguiram produzir pães rigorosamente iguais. O que, convenhamos essencialmente, é uma tristeza.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

O que temos de mais sensato

O que temos de mais sensato, gastricamente coerente e irredutivelmente provado? O senso comum. O que é o senso comum? O senso comum é a nossa capacidade de vermos o que vemos, de sentirmos o que sentimos, de ouvirmos o que ouvimos, de doermos o que dói, de rirmos o que faz rir. E por aí fora. O que é visto é visto, o que é sentido é sentido, o que é ouvido é ouvido. Aí reside a verdade. Empírica, real, genuína, doce, fraterna, irreprovável, apodíctica, com o perfume das circunferências e a hostilidade para com a diálise dos neurónios. O que é, ainda, o senso comum? O senso comum é, ainda, a essência pura, a alma dos plurais, a espinha dorsal do razoável. Finalmente: o senso comum é o senso comum e prontos.

A coisa mais bela

Acho insuportável que tenhamos de ser estrangeiros à coisa mais bela que há na vida: o senso comum.